“- Essa era Meg – concluo. – Ela era capaz de fazer qualquer coisa. De ajudar qualquer pessoa. 
Alice fica em silêncio, digerindo o que acabou de ouvir.
– Menos a si mesma.”
Cá entre nós, suicídio não é um tema muito explorado na sociedade devido às inúmeras questões políticas, sociais e religiosas que envolvem o debate.
Entretanto (e não sendo a primeira vez que a autora desafia o senso comum), Gayle acabou investindo seu tempo e sua imaginação (e mais um toque de pesquisa, já que nas últimas páginas do livro descobrimos ser baseado em fatos reais) em um tema tão polêmico e escrevendo um livro que prioriza o autoconhecimento e a amizade em seu enredo, tocando milhares de leitores (incluindo esta que vos escreve).

“Eles são os pais de Meg. Ou eram. Ainda me confundo com os tempos verbais. Você deixa de ser pai de alguém quando a pessoa morre? Quando ela escolhe morrer?”
Meg está morta. Ela escolheu dirigir até um motel, beber veneno, deixar uma gorjeta para a camareira e programar um e-mail para se despedir de todos aqueles a quem ama. 
Ela está morta pois recebeu um colar de pérolas da vida e decidiu se enforcar.
Ela está morta.
Entretanto, Cody está viva e tem que lidar com as fofocas de cidade pequena sobre a sua melhor amiga, com uma mãe ausente, um pai que nunca conheceu, seus sonhos sendo desgastados pela realidade nada acolhedora e com a família em luto que praticamente a criou, já que Meg e Cody eram inseparáveis.
Cody está viva, mas Meg era a sua melhor metade e agora ela está vazia.

“Mas você só consegue prender a respiração até certo ponto. Em algum momento, terei que soltar o cheiro dela; então, vai ser como aquelas manhãs, em que acordo e me esqueço antes mesmo de lembrar.”
A pedido dos pais de Meg, Cody acaba responsável por viajar até Seattle e esvaziar o quarto de república de sua amiga (que ao contrário dela havia alcançado seus sonhos e saíra de casa), encontrando e desenterrando verdades, conhecendo sua antiga vida e suas companhias e mesclando sua própria essência à da melhor amiga em apenas um final de semana.
Entretanto, tal final de semana a leva à conclusão de que Meg fora induzida, manipulada, por alguém e tentara protegê-lo. 
Inconformada e inconsolada, Cody decide fazer na morte o que não pôde fazer pela vida de sua melhor amiga e descobrir o culpado. 
Redirecionando todo o seu foco para a investigação da morte de Meg, Gayle apresenta ao leitor, por meio do ponto de vista de Cody, o poder do mundo virtual e das palavras de um estranho.

“E vê que todas aquelas coisas que achava tão importante que fossem ditas, na verdade, não eram. Simplesmente não valia a pena dizê-las.”
Como sempre, Gayle encanta ao leitor com sua escrita harmoniosa; entretanto, em “Eu Estive Aqui”, ela abandona a leveza de suas demais narrativas e realmente nos introduz ao mundo de Cody, tornando sua dor e seus conflitos internos palpáveis.
Um fato interessante sobre seu mais novo livro é o modo como ao longo da narrativa Meg e Cody se fundem, e logo Cody acaba descobrindo em si mesma a parte que também não deseja viver.

“Mesmo se eu conseguisse falar, não saberia o que dizer. Ele era um monstro e uma pessoa. Ele a matou e ela se matou. Eu encontrei, mas não encontrei nada. Estou engasgando em areia, poeira, ranho e agonia.”
Como mencionado anteriormente, “Eu Estive Aqui” é sobre autoconhecimento, ou seja, não há um visível crescimento durante a trama, mas si muma exploração maior dos personagense de quão pouco sabemos sobre nós mesmos.
Outro ponto a ser comentado é o romance clichê que se desenrola em segundo plano e o “final feliz” menos elaborado que já li (garoto e garota brigam garoto procura garota, beijam-se e fim). Mas, novamente, romance não é o principal tema da história e nem mesmo está sob o holofote da autora. 
“Eu Estive Aqui” é um livro delicado e verdadeiro que lida com o luto, a depressão e a busca pela paz. Uma leitura rápida, capaz de agitar seus pensamentos e lhe emocionar.
Foi uma honra conhecer uma personagem tão complexa e destemida quanto Cody – e, por um momento ou dois, identificar-me com ela. 

“O que eu quero dizer é: você nunca desistiu, nem na dança, nem na matemática, nem em nada, e talvez tivesse mais motivos para isso. Você tinha um monte de pedras nas mãos, então resolveu limpá-las, deixá-las bonitas e fazer um colar. Meg ganhou um colar de joias e se enforcou com ele.”

Título Original: I was here
Título Brasileiro: Eu Estive Aqui
Autor(a): Gayle Forman
Editora: Arqueiro
Ano: 2015
Páginas: 240
Sinopse: Quando sua melhor amiga, Meg, toma um frasco de veneno sozinha num quarto de motel, Cody fica chocada e arrasada. Ela e Meg compartilhavam tudo…
Como podia não ter previsto aquilo, como não percebera nenhum sinal?
A pedido dos pais de Meg, Cody viaja a Tacoma, onde a amiga fazia faculdade, para reunir seus pertences. Lá, acaba descobrindo muitas coisas que Meg não havia lhe contado. Conhece seus colegas de quarto, o tipo de pessoa com quem Cody nunca teria esbarrado em sua cidadezinha no fim do mundo. E conhece Ben McCallister, o guitarrista zombeteiro que se envolveu com Meg e tem os próprios segredos.
Porém, sua maior descoberta ocorre quando recebe dos pais de Meg o notebook da melhor amiga. Vasculhando o computador, Cody dá de cara com um arquivo criptografado, impossível de abrir. Até que um colega nerd consegue desbloqueá-lo… e de repente tudo o que ela pensou que sabia sobre a morte de Meg é posto em dúvida.
Eu estive aqui é Gayle Forman em sua melhor forma, uma história tensa, comovente e redentora que mostra que é possível seguir em frente mesmo diante de uma perda indescritível.

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