Ficha Técnica

Título Original: Marina
Título Brasileiro: Marina
Autor(a): Carlos Ruiz Zafón
Ano: 1999
Editora: Suma das Letras
Páginas: 189

Sinopse: Óscar Drai tem quinze anos e mora em um Internato em Barcelona. Ele passa seu tempo livre passeando pelas ruas da cidade, em busca de aventuras para tentar preencher o vazio dentro dele. Em uma de suas andanças, acaba sendo atraído por uma música dentro de um casarão aparentemente abandonado e, sem pensar duas vezes, se infiltra para dentro da casa. Conhece, então, a jovem e alegre Marina e seu educado e quieto pai. Vê na bela e nova amiga uma vida diferente da do internato, e os considera mais sua família que seus ausentes pais. Em uma visita ao cemitério, levado por Marina, sua vida tão almejada de aventuras se inicia ao observar uma mulher de negro que, segundo a garota, sempre visita o mesmo túmulo sem inscrições, com apenas uma borboleta preta marcada, no último domingo de todo mês. O que começa como uma brincadeira inocente de investigação os guia por um caminho mais sombrio que podiam esperar. Mortes suspeitas, cheiros perturbadores que acompanham ocasiões estranhas, perseguições e um passado há muito esquecido, mas nunca superado. E, além de tudo, sua melhor amiga parece esconder um segredo que começa atormentar a relação dos dois.

Minha tia havia, uma vez, me dito que tinha lido um livro super bacana que eu deveria ler. Isso foi há alguns meses e eu ainda não era familiarizada com a escrita de Zafón. Na semana passada ele me falou sobre ele novamente e me mostrou o livro. Há essa altura eu já havia começado a ler A Sombra do Vento e quando vi que era do mesmo autor, não pensei duas vezes antes de pega-lo emprestado.

Zafón tem uma maneira única de escrever. É tão verdadeiro e ao mesmo tempo poético que nos prende na leitura com uma facilidade incrível além de ser quase mágica. Sem contar os personagens, tão interessantes e humanos, fácil de identificar-se com um ou outro, nem que seja o nome, aparência ou alguma outra qualidade. Mesmo os vilões, é impossível amá-los ou odiá-los e, sim, fácil sentir pena e compaixão por eles, de tão humanizados que eles são e pela forma que o autor os aborda e apresenta.

“O suspeito vagava pela estação de Francia como uma alma penada numa catedral de ferro e névoa. O policial me abordou com um ar de romance de terror.” pág. 7

A leitura é bem detalhada, nada que você lê é dispensável e sempre será usado mais para frente. Geralmente livros tem aquela parte chatinha que você pula ou lê por cima, que muitas vezes não faz diferença depois. Além de, em Marina, fazer diferença o que você lê ou deixa de ler, não há partes que sejam chatas e que dê vontade de pular, apesar de, às vezes, a leitura cansar um pouco pelo número de detalhes e descrição. São eles que dão um quê a mais no livro, que nos levam diretamente para Barcelona, nos possibilita visualizar a cena com perfeição e ter uma enorme vontade de conhecer aquela Barcelona em busca dos lugares citados na esperança de nos deparar com os próprios Óscar e Marina.

O desenvolvimento da trama foi bem feita e abordada assim como o relacionamento do casal principal e Germán, o pai de Marina. As histórias das personagens são todas de alguma forma triste e, quando juntos, superam a tristeza e dificuldades, encontram alegria de viver e deixam de apenas existir. São duas tramas sustentadas, o segredo de Marina e Germán que possuí pistas pelo livro, mas vai se tornando mais presente no final do livro para, só no final, ser revelado. E o mistério da dama de negro no cemitério e a borboleta preta, que é o que puxa tudo, rendendo tensão e assombro – sim, assombro.

“Meu olhar subiu por aquele vestido que parecia saído de um quadro de Sorolla e foi parar num par de olhos de um cinza tão profundo que alguém poderia cair lá dentro. Estavam cravados em mim com um olhar sarcástico” – pág 17

Marina tem um frescor e inocência contracenando com suspense e medo, esses dois lados antagônicos no livro são trabalhados muito bem e funcionam juntos. Um sem o outro não daria ao livro a mesma qualidade é prazer na leitura, ficaria seco e bruto. Ficou um romance palpável e verossímil, apesar de ter um elemento meio sobrenatural – que eu não esperava mesmo.

O final, quando digo final é final mesmo, as últimas páginas, ficou meio previsível para mim depois da metade do livro, até mesmo antes. Não vou dizer que fiquei contente com ele, não foi exatamente um final que me encheu de alegria, mas funcionou com o livro e a temática e, apesar da minha agonia ao lê-lo, não acho que, se pudesse, o mudaria.

“- Às vezes, as coisas mais reais só acontecem na imaginação, Óscar – disse ela – A gente só se lembra do que nunca aconteceu.” pág 68

Segundo o próprio Zafón, Marina é um de seus livros preferidos, e entendo e partilho de sua opinião. Por ter esse ar inocente, interessa os mais novos e, ao mesmo tempo, pelo mistério e suspense, os mais velhos também o apreciam. Seria um livro atemporal e perfeito para virar filme – filme cult e não comercial. A escrita dele é bem característica, consegui perceber isso ao terminar Marina e comparar com o que estou lendo em A Sombra do Vento. Tem sempre um mistério grande que incita o personagem principal – escrito pelo ponto de vista dele, sempre masculino – e podemos ir descobrindo juntamente a eles, viramos detetives como as personagens.

Apesar de Marina estar frequentemente presente com Óscar, não é ela que lidera a trama, mas é uma personagem importante por que é importante para Óscar. É nela que ele se inspira e continua, ele a admira e ama. Há um mutuo respeito e a amizade dos dois é linda. O nome do livro, mesmo que a trama central não seja ela, vale por isso. Foi ela quem começou a história, ela ensina muito a Óscar e é com ela que a trama termina. Só não concordo com a capa que, apesar de linda, não combina, pois, no livro, Marina é tida como cabelos claros e 15 ou 16 anos e não há mais algum personagem que se enquadraria na criança da capa.

 “Era o fedor inconfundível da morte, sussurrando meu nome. Virei e vi uma borboleta negra pousada em meu ombro.” pág 110

Marina foi publicado originalmente na Espanha em 1999 e só agora, em 2010, teve seus direitos vendidos para editoras do mundo. É o quarto livro de Carlos Ruiz Zafón.

Resenha e sinopse desenvolvidas por Maria Salles.