Olá gente! Hoje é o terceiro dia do #BEDA e eu resolvi que, ao invés de trazer uma resenha, eu postaria os últimos dois capítulos de uma coleção de mini contos que estou escrevendo. Eu já falei do Contos de Mabelle aqui no blog, mas como eu não escrevo nem posto com frequência por lá, resolvi postar um pedaço aqui durante o beda para quem não acompanha ou quem perdeu a atualização. Espero que vocês gostem!

Segunda Parte: Cinza

XV – O Oceano

Boio sobre o oceano.
O céu límpido e azul sobre mim. Vejo gaivotas voando. Gostaria de me juntar a elas. Bater minhasasas, sentir o vento, conhecer o céu. Mas o oceano não deixa. Ele pesa sob mim e se infiltra em meu corpo. Prende-me a ele.
A água me puxa. Sente meu desejo de liberdade e decide afoga-lo.
Afogando-me no caminho.
Bato os braços. Luto contra a correnteza.
Mas só me
 A
     F
       O
          G
             O
A água me puxa para baixo, para longe da luz, para longe do céu, para longe das asas dos pássaros.
Parece que concreto está preso aos meus pés, guiando-me cada vez mais fundo na escuridão do oceano.
Onde não há som;
Onde não há luz;
Onde não há vida;
Onde não há céu.

Segunda Parte: Cinza

XVI – O Quarto


Entre. Seja bem-vindo. Acomode-se.
Não repare na bagunça. Dê-me só um segundo, irei escondê-la sob a cama, dentro do armário, nos cantos da gaveta.
Não olhe ai! Há sujeira acumulando pelos cantos. Poeira acumulada entre os anos. Aprendi a escondê-la muito bem.
Pronto.
Fotografias alegres nas paredes. Ursinhos de pelúcia sobre a cama. Flores frescas no vaso.
Assim está bom?
Sente-se. Vamos conversar sobre amenidades. Vamos sorrir e fugir de assuntos sérios. Está tudo bem, obrigada. Veja, estou sorrindo. Veja, estou arrumada.
Só não abra os armários da minha mente, as gavetas da minha alma. Tudo o que encontrará será bagunça por baixo da aparente limpeza e organização. Conforme-se com aquilo que lhe entrego, com o que lhe digo. Mantemos a aparência. Finjamos a alegria que não temos.
Eu lhe disse. Sei esconder bem a sujeira que acumulei entre os anos.