Editora: Corvus

Páginas: 224

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Estou me dedicando a não apenas ler mais nacionais, mas também de sair do eixo sudeste para explorar mais as possibilidades do Brasil, então quando surgiu a oportunidade de parceria fiquei muito animada. As minhas expectativas foram mais que alcançadas, As Bruxas do Meu Quintal, romance de estreia de Pablo Praxedes, abriu minhas leituras de 2023 com pé direto e chave de ouro.

Ouvira tantas coisas, mas nunca acreditara em nada. Sua concepção do que era “bruxaria” fora criada com base em preconceito e perseguição. Às vezes as pessoas só são diferentes.

Ambientada em Mossoró, acompanhamos quatro momentos importantes no decorrer da vida de Salete, a bruxa da cidade que vive isolada na mata decidida a manter a magia e o carnaubal protegidos do mal. Cada momento é escrito em atos individuais, mas que se conectam contando uma história só.

Salete é a última descendente de uma linhagem de bruxas cujos conhecimentos seculares vem, pelo que pude observar, de uma mistura indígena e africana. Sua força vital provém do próprio carnaubal, protegendo-se mutuamente de más intenções e dos avanços da urbanização, funcionando também como um personagem onipresente e onisciente durante a trama.

Com feiticeiros, fantasmas e poções, As Bruxas do Meu Quintal é uma história, sobretudo, sobre amor em uma empreitada de autodescoberta. Amor, inclusive é o que move cada um dos atos e o que, essencialmente, move. O amor de Gustavo por João, de Salete por Laurentina, o amor pelo carnaubal e sua coragem em protegê-lo. De formas explícita e implícita, é sobre a nossa conexão com as pessoas ao redor e como isso nos molda.

“Numa cidade como aquela, onde bruxas, fantasmas e cangaceiros assombravam tudo e todos, amar por si só já era um ato de coragem.

A escrita é familiar como se estivéssemos conversando numa roda de amigos e flui facilmente, sem problemas e bem rapidamente. Eu gostei bastante de como cada detalhe foi inserido e apresentado, sem ser cansativo ou destoar, as informações vão se encaixando e tudo faz sentido no final. A história se desenrolava bem a minha frente e conseguia ver tudo como se fosse um filme.

E por mais que seja uma leitura breve e dinânimca, eu achei que não deixou a desejar na construção dos relacionamentos. Mesmo sem muito detalhes, afinal, cada arco é enxuto e sem desviar muito do foco principal, eles possuem sustentação e eu me vi torcendo para que todos tivessem finais felizes.

O livro acerta em trazer um quentinho no coração ao ser tão relacionável – de diversas maneiras. Eu amo fantasia e mitologia, e foi um prazer diferente provar uma bruxaria do interior do Brasil. É identificável, como me olhar no espelho e reconhecer o reflexo, talvez por eu mesma ser do interior, senti como se estivesse em casa e as ruas e a mata fossem as minhas próprias. É o tipo de história que tem gosto e cheiro de casa, sabe?

Eu gostaria demais de ler mais sobre Salete e o povo de Mossoró, tem muito potencial para continuar, como um seriado de tv em que cada episódio é um caso: cada conto focado em um trabalho da Salete como bruxa no decorrer de sua vida! (fica ai a dica, Pablo )

A Deusa nos mostrou em uma visão o dia que você nasceria e o dia que você nos chamaria. Todas as mulheres que passaram por essa terra desde que chegamos aqui tiveram suas vidas entrelaçadas como as raízes das carnaúbas. Durante gerações e gerações aguardamos esse dia chegar.

Conteúdo trazido em parceria com o autor Pablo Praxedes.