Editora: DarkSide Books

Páginas: 288

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Gótico Mexicano me conquistou à primeira vista, e de longe. Com as cores fortes e contrastantes, a ilustração lindíssima de capa, o corte colorido. E então a sinopse me arrematou, o livro precisava ser meu. Toda a promessa que eu sentia emanar de suas páginas foi mais que cumprida. 

Em Gótico Mexicano, conhecemos Naomi, uma jovem abastada que divide seu tempo entre a faculdade e festas glamurosa na Cidade do Mexico, brincando com os corações dos rapazes que fazem fila atrás da moça. Sua vida dá uma guinada ao receber uma carta errática e desesperada de sua prima Catalina, pedindo por ajuda, e Naomi larga tudo para ir ajudá-la em El Triunfo, pequena cidade no interior.

Catalina é recém-casada com um jovem inglês e se mudou para a propriedade da família, a mansão High Place. É lá que nossa narrativa se desenvolve, tão misteriosa e sombria quanto o próprio terreno onde a casa foi construída. No topo de uma colina, com acesso difícil, o ambiente tenso se reflete em todo lugar, desde as conversas sussurradas até a neblina e chuva infindáveis. Uma paisagem constantemente mórbida cujos moradores fazem questão de intensificar.

“Eu tranco a porta, mas eles vêm mesmo assim, ouço seus sussurros à noite e tenho muito medo desses mortos inquietos, estes fantasmas, criaturas etéreas.”

Naomi, cheia de vida e vibrante, contrasta e compete diretamente com esse mundo, ficando muito claro que ela não pertence àquele lugar. Isso fica explícito na dificuldade em se relacionar com a família e o desagrado de sua presença ali. O ambiente hostil, entretanto, não é o suficiente para afastá-la, Naomi está determinada a ajudar a prima que desfalece de uma doença misteriosa e que ninguém ali parece dar real atenção.

Com uma narrativa envolvente, acompanhamos as investigações de Naomi para descobrir os mistérios que envolvem High Place (cuja presença é tão intensa quanto um personagem coadjuvante) que não apenas adoeceram sua prima, mas também passaram a afetá-la de modo a questionar a realidade e sua própria sanidade. A ameaça está à espreita, e conseguimos sentir em cada página, criando teorias atrás de teorias – e nos surpreendendo como final.

Era como caminhar sobre uma grande ferida, que se estendia pelas paredes. O papel de parede descascado revelava órgãos doentes ao invés de tijolos e tábuas de madeira. Veias e artérias entupidas com fluidos misteriosos.

Silvia Moreno-Garcia cria um realismo-fantástico amarrando discussões atemporais – como machismo e patriarcado – com a história mexicana, remetendo à colonização e eugenia, de forma crível, sendo coerente em sua trajetória e conclusão. Um livro cheio de detalhes que te suga para suas páginas de forma a parecer que está vivendo aquilo.

Não é um livro de horror que te dará medo, mas um suspense pra te deixar alerta a cada respiração e corredor sombrio. E no final, nos resta a pergunta: o que mais nos assusta, o homem ou a ameaça sobrenatural?

“Noemi, não é só porque fantasmas não existem que você não pode ser assombrada. Nem que não deva temer a assombração.”