Como boa fã de Jane Austen, me interesso sempre pelas adaptações e releituras de suas obras, especialmente as que conseguem trazer um viés moderno sem perder o espírito do original. Inclusive, algumas conseguem ter um notório destaque, como o clássico As Patricinhas de Beverly Hills (releitura de Emma).
Eu já havia ouvido falar de Orgulho e queria ler fazia bastante tempo quando a oportunidade se fez durante um Clube de Leitura, em parceria com a editora Harper Collins (obrigada pela edição, Morana!).
O que eu gosto em uma releitura não é o quanto ficou igual ou reconhecível logo de cara, mas sim, se o autor soube captar a essência do original e transcrever em sua obra de modo a torna-la sua. Isso é algo que Zoboi soube fazer com maestria. Ela conseguiu pegar os eventos de Orgulho e Preconceito e trazer para um contexto moderno sem que a referência se perdesse e ainda conseguiu manter a originalidade. O que, na minha experiência como leitora, é incomum e talvez até mais difícil de se fazer.
“- Só para deixar claro: por aqui, você é igual a todo mundo. A polícia e esses brancos todos vão olhar para você e achar que você mora no mesmo conjunto habitacional que eu, não importa quantas bermudinhas cáqui ou sapatos de vovô você tenha.”
Zuri Betinez é uma jovem afro-latina do subúrbio, que com muito desgosto observa seu bairro perder suas características conforme sofre com a gentrificação. Com um ar sabe-tudo bem similar à nossa Lizzie, não vê com bons olhos quando a rica família Darcy se muda para o outro lado da rua e, principalmente, odeia quando Janae, sua irmã mais velha, começa a se envolver com Aisling, um dos adolescentes da casa.
Da mesma maneira que Austen utiliza-se da ironia em suas obras para fazer críticas à sociedade de sua época, Ibi Zoboi usa a voz de Zuri para levantar questões como identidade cultural e diferença de classe ao se estranhar com Darius Darcy.
Orgulho também é imerso na cultura afro-latina, o que é fenomenal. Sendo a própria Ibi haitiana, pude reconhecer suas próprias experiências e vivências no livro. Os pratos típicos, os rituais religiosos, tudo descrito com tanto detalhe que parece que estou passando uma temporada com os Benitez!
“A gente não pode jogar o passado fora como se não significasse nada, sabe? É isso o que acontece com bairros inteiros hoje em dia. A gente construiu alguma coisa, foi uma confusão, mas não dá para jogar tudo fora.”
Mesmo sendo uma releitura, assim como disse lá em cima, as referências não são explícitas. Eu sabia os pontos chaves da obra principal, e Ibi fez um trabalho tão bom que eles apenas guiavam sua história ao invés de ser aquela coisa óbvia e até mesmo preguiça sabe? Deixando cada página um mistério e aquele gostinho bom depois ao perceber que “aaah aqui seria aquela parte do livro da Austen”.
Com uma narrativa fluída e leve, o livro nos envolve do começo ao fim, trazendo personagens interessantes e realistas. Zoboi tem a proeza em falar sobre assuntos importantes sem deixar o livro pesado, oferecendo uma reflexão e diálogo para com os leitores. Vale muito a pena a leitura!
Título original: Pride: A Pride & Prejudice Remix
Titulo nacional: Orgulho
Autor(a): Ibi Zoboi
Tradutor(a): Giu Alonso
Páginas: 272
Editora: Harper Collins
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