No dia 25 de dezembro a Netflix estreou sua mais nova série, Os Bridgerton, em parceria da ShondaLand, produtora da Shonda Rhimes que criou as séries de sucesso Grey’s Anatomy, Scandal e Private Practice, e produziu How To Get Away With Murder. A série também é uma estreia da parceria milionária entre a Rhimes e o canal de streaming, que assinaram um contrato no valor de 150 milhões de dólares!
Baseado na série de 8 livros da Julia Quinn, Os Bridgerton acompanha a família-título na alta sociedade da Londres regencial durante a temporada de bailes – época extremamente importante para as moças debutarem e encontrarem seus futuros maridos. É nesse ambiente cheio danças, vestidos e joias que aparece Lady Whistledown: uma misteriosa mulher que parece saber tudo sobre todos e que faz questão de espalhar através de seu jornal particular todas as fofocas da mais alta sociedade. Uma única palavra dela pode ser sua ruína ou fortuna.
É por conta de sua coluna que Daphne Bridgerton e o requisitado Duque de Hastings entram em acordo: forjar um interesse romântico entre eles. Dessa forma, Daphne chamará mais atenção e o Duque poderá escapar das investidas das mães desesperadas. O que parece ser uma ótima ideia no começo, uma vez que o desagrado entre eles é mútuo, começa a se complicar quando forças externas obrigam a farsa a ir cada vez mais longe.
Com 8 episódios de cerca de uma hora cada, a primeira temporada conseguiu ir longe com relação a desenvolvimento de história e personagens, seu tempo foi tão bem aproveitado e o roteiro bem estruturado, que ao final parecia que eu havia assistido mais episódios. Ficou uma temporada bem fechada, distribuída e aproveitada, bem do jeito que eu gosto.
Sendo bem sincera, eu conheço os livros já há bastante tempo e não tive vontade de ler e continuo sem vontade; mas assim que saiu o trailer eu sabia que tinha que dar uma chance à série. Algo que percebi desde o início é que ela teria uma dinâmica bem diferente do que eu esperava e fui comprada logo às primeiras palavras da Julie Andrews narrando. Se preparem para a Gossip Girl usando discutindo vestidos e usando fitas, e bem debochada.
Bridgerton é uma peça histórica com trejeitos contemporâneos, que simplesmente funcionou da maneira que eles fizeram. Os figurinos adaptados e bem estampados, as cores sempre muito vivas, as cenas muito claras. Sem contar a trilha sonora, utilizando músicas famosas de grandes artistas como Ariana Grande, Maroon 5 e Taylor Swift com arranjos instrumentais. Pegaram a liberdade criativa e com muito cuidado e bom gosto costuraram todo um ambiente original e funcional para a série de época que combinou com o enredo e deixou extremamente atraente para o público.
Como diria minha amiga Jacque: “abraçaram a farofa”, e uma vez a farofa abraçada as coisas fluem bem mais facilmente. Isso é algo positivo, diga-se de passagem! É uma manobra difícil de se fazer, contar uma história com a proposta de ignorar muito do contexto histórico e que, ao mesmo, não fique de mal gosto ou mal feito ao adicionar os elementos de modernidade.
Algo que gostaria muito de falar é a direção de cena. Não é sempre que eu reparo nisso, especialmente de maneira espontânea, mas a direção dos atores foi algo que me deixou bem surpresa. A forma que se moviam entre eles, pequenos gestos e coisinhas banais do dia a dia estavam lá, de maneira bastante orgânica e natural. E isso acaba refletindo na química dos atores também, especialmente entre os dois principais. Era palpável uma relação que unia todos ali e que me fez acreditar na história sendo contada. As cenas entre os irmãos então, eram muito boas e divertidas.
Não sei como é a versão escrita, mas gostei que o enredo não se limitou ao trivial como bailes, casamentos, e essas coisas – seria bastante entediante e acho que não teria me atraído se fosse assim. Falou-se bastante sobre papel da mulher na sociedade e de como ele é diferente do homem, de como isso interferia nas relações e como as expectativas eram diferentes. Fazer um bom casamento, ter filhos, manter-se casta até as núpcias. Qualquer deslize, mínimo que fosse, poderia custar tudo isso e pior: afetaria os casamentos das irmãs mais novas. É uma ótica mais atual, mas que deixou bem interessante.
E a fotografia! Ah, a fotografia é linda. Desde iluminação a jogo de câmeras, colorização e posicionamento de personagens. Há umas cenas tão bonitas de detalhes, ambientação, que deixa tudo tão romântico que nem sei. Parabéns aos envolvidos!
Muito foi falado quanto ao elenco negro em personagens principais na alta sociedade. Eu eu sinceramente nem notei isso. Esqueci. Simples assim. É algo tão indiferente à trama no geral que eu em momento algum fiquei me perguntando o motivo de estarem ali (Regé-Jean Page casa comigo) além de eles simplesmente estarem e pronto.
Em segundo lugar, há uma discussão entre os historiadores se rainha Charlotte era descendente de alguma linhagem africana, o que explicaria porque vários retratos dela possuíam traços negros. É uma discussão que, até onde vi, não se chegou a alguma resposta definitiva, mas que abre possibilidades, de forma que ter uma rainha negra na série é longe de ser absurdo.
Algo que preciso lembrar é que o brasil foi um dos últimos países a abolir escravidão em 1888. Apesar da escravidão na Grã-Bretanha ser abolida em 1833, antes disso foi proibida a captura e comércio de escravos em 1807, e havia negros livres fazendo seus nomes durante o período regencial, como compositores, atores, escritores ou lutadores de boxe. Poderiam não existir duques negros, mas uma vez que a proposta da obra não é considerar contexto histórico ao pé da letra, abriram essa possibilidade, e isso funcionou dentro da história.
Algumas coisas me incomodaram, mas não tem como eu falar se dar spoilers gigantescos ou tagarelar por uma hora. Mas no geral, Bridgerton me surpreendeu bastante, não esperava realmente que eu fosse gostar tanto. Foi muito bem produzida, desde o roteiro, construção de personagens e ambientação. Shonda acertou em cheio, e ao lado da Netflix, se manterem neste passo, consigo ver várias temporadas pela frente.
Infelizmente eu maratonei muito rápido, e agora sigo aqui na espera de mais episódios. Posso ou não me convencer a reassistir daqui um tempo, com mais calma e menos ânsia para poder notar tudo o que me passou despercebido da primeira vez. Se você gosta de romances de épocas leves, sem compromisso com a realidade e que vai te entreter do primeiro ao último episódio, Bridgerton pode ser uma ótima escolha!
Ficou com vontade de ler? Aproveite e compre o livro!