Quando vi a chamada da nova série da Netflix, “Eu Nunca…”, eu imaginei que seria apenas mais um investimento do canal de streaming em conteúdos para adolescentes cheios de clichê. Você sabe, o grupo nerd de meninas decide que o novo ano escolar será totalmente diferente e acabam em diversas situações embaraçosas. Eu já vi isso inúmeras vezes, e com certeza você também já viu. Ainda sim, dei uma chance a série toda colorida de trinta minutos (sempre precisamos de uma dessas de vez em quando). Admito que vi um episódio e fiquei um pouco com preguiça, Devi, a personagem principal, parecia um pouco demais para mim. Foi só na segunda sentada que a coisa deslanchou numa mistura de sentimentos.

A série é mais profunda do que aparenta por conta de um detalhe importante: o que movimenta Devi do primeiro ao décimo episódio, ocasionando em diversas mancadas com as amigas e com a família, é o luto. De uma maneira até que leve, Mindy Kalling e Lang Fisher, as criadoras da série conseguiram abordar a trajetória de uma adolescente do ensino médio ao perder seu pai de uma maneira inesperada e chocante. Toda sua ansiedade por mudar, em fazer justamente aquilo o que não esperam que ela faça, seus ímpetos e impulsos, Devi está, na verdade, perdida e sem se permitir sentir a perda do pai. Foi algo que me tocou muito em particular, uma vez que julho vai fazer um ano que perdi meu próprio pai – e, veja só, mesmo eu sendo 10 anos mais velha que a personagem, me senti bem próxima a ela.

Apesar desse plano de fundo triste que guia a história, a série não pesa e consegue nos fazer rir sem culpa – como quando ela cai de cara no chão no corredor da escola por não saber usar saltos. Ou os momentos com seu crush master, Paxton, é praticamente vergonha alheia. A série soube equilibrar muito bem, não ficando nem melodramático ou uma comédia basiquinha, trazendo ao invés algo mais realista e inteligente. É uma boa produção com desenvolvimentos de personagens, dando atenção não apenas à Devi, mas também suas amigas e seu inimigo-escolar, Ben. Sem contar a capacidade de abordar as diversas 
Outro ponto tremendamente importante que merece um parágrafo só dele é a diversidade. Devi é hindu e através de sua família podemos observar algumas tradições e cultura, e a dificuldade dela em se ver como hindu tendo nascido e crescido nos E.U.A. Temos personagens judeus, asiáticos, negros, LGBT+, como uma escola e cidade normais cheias de pessoas diferentes. E são personagens com falas, histórias, importância, ao invés de relegados ao fundo. É uma dinâmica diferente e que gostei muito de observar. 
Para concluir, “Eu Nunca…” é uma série para adolescentes com um clichê revigorado, que pegou o que seria mais do mesmo e transformou numa série de conteúdo e positiva para quem for assistir, cheia de temas pertinentes principalmente para os que estão na idade dos personagens. Espero que seja renovada, acredito que há muito mais para ser falado – e no formato que fizeram, seria muito ouvido.