Título Original: The Secret Garden
Título Nacional: O Jardim Secreto
Autor(a): Frances Hodgson Burnett
Páginas: 272
Editora: Editora 34
Na minha tenra infância, um dos meus desenhos favoritos era O Jardim Secreto. Eu tinha um VHS que fazia parte da coleção Videoteca da Criança, do jornal Folha de S.Paulo, que eu assistia seguidamente, gostava tanto que eu o guardei comigo por anos mesmo quando os DVDs começaram a tomar seus lugares. Quando cresci um pouco mais conheci o filme de 1993 através da Sessão da Tarde e, claro, meu amor pela história só ficou mais forte (a conta da locadora que o diga). Mas eu nunca havia lido o livro; aliás, por muito tempo não sabia ou ignorei a informação de sua existência. E aí a gente cresce, nossas prioridades mudam e o que antes aquecia nosso coração fica no cantinho meio esquecido.
Com a quarentena e a mudança de rotina – e minha súbita nostalgia pelo enredo – finalmente pude parar de procrastinar e pedir o livro emprestado a uma amiga para conhecer a história original. Meu único arrependimento é não ter feito isso antes.
Publicado em 1911 e considerando a maior obra da autora, o livro conta a história de Mary Lennox, uma criança inglesa muito mal humorada e desagradável que após a morte dos pais passa a morar com o recluso tio em sua mansão sombria. Sem nada para fazer ou com quem brincar, Mary passa seu tempo explorando a propriedade em busca de um jardim há muito escondido. A sinopse é muito simples e qualquer coisa dita a mais… bem, é demais. De qualquer forma, a existência de um jardim secreto a espera para ser descoberto, uma promessa etérea cheia de mistérios, permeou minha mente por anos. A busca por ele sendo tão importante quanto ele próprio, que participa do livro como um personagem silencioso acometendo tantas mudanças entre seus companheiros. É facilmente meu livro favorito do ano e um dos favoritos da vida.
Todas as adaptações que eu assisti foram muito boas, mas o que eu buscava só encontrei nas linhas do livro: as nuances. Mary é uma jovem mimada e séria, que nunca foi de fato uma criança e que por muitas vezes age feito uma velha carrancuda. A mansão e a vida no interior da Inglaterra é tão diferente do que ela está acostumada que, inevitavelmente, causa mudanças em seu humor, eu sua aparência, em seus pensamentos. Acompanhá-la aos poucos se permitindo agir e ser criança, de certa forma pelo menos, foi como se eu estivesse acompanhando sua trajetória bem ao seu lado, invisível.
O livro é infantil, o que não significa que mais velhos não possam aproveitar – e talvez aproveitem até mais, por questões de amadurecimento do olhar sobre a história. A narrativa é extremamente leve e fluída, facilmente lido em alguns poucos dias. Depois de tanto tempo com dificuldades em pegar um livro pra ler, O Jardim Secreto, tal como minha xará no livro, parece ter me devolvido a vontade. De alguma forma, Frances parece ter o dom de nos aquecer o coração com suas palavras e nos envolver no início ao fim. Eu podia praticamente sentir o cheiro da natureza enquanto lia, ou ouvir o vento pelos corredores vazios da mansão. É um jeito característico de escrita que me agradou demais.
Eu tenho apenas duas ressalvas para fazer: uma, a edição do livro carecia maior cuidado. Não foram poucas as vezes que havia palavra digitada errada ou, ainda, que o corretor trocou por outra palavra deixando a frase sem sentido. Duas: o final abrupto. Minha sensação foi que haviam cortado o capítulo e esquecido de publicar o resto. Não que faltasse mais à história, não é isso, mas pareceu corrido, como se tivesse resumido tudo em algumas linhas e ai fica aquela sensação de continuidade. De resto, a edição é menor, mas não chega a ser de bolso, e há ilustrações lindas no decorrer das páginas.
Uma curiosidade é que Frances, a autora, se inspirou em um jardim real para o livro. Ela morou na mansão Great Maytham Hall, onde se dedicou ao seu amor por flores, em especial as rosas. Foi lá que ela encontrou exatamente um jardim “secreto”: todo murado e negligenciado. Ela mesma cuidou dele pelos dez anos em que morou na mansão e foi lá que escreveu algumas de suas obras.
Por fim, eu posso dizer que eu amo esse livro, as adaptações, a história. Eu quero que todos leiam e conheçam um pouco d’o jardim e se apaixonem pelos passarinhos de peito vermelho, pela curiosidade, pela natureza e pela vida, assim como Mary se apaixonou.