John Hughes foi um diretor, produtor e roteirista e é considerado um clássico dos anos 80, e não é por pouca coisa. Seus filmes são conhecidos e exibidos desde que foram lançados, e alguns extremamente conhecidos – vai dizer que nunca cantou Twist and Shout com Ferris Bueller em Curtindo a Vida Adoidado? Ou não teve uma crush pelo elenco de O Clube dos Cinco? Apesar de seu vasto currículo, eu conhecia seus filmes mais por nome que por tê-los de fato assistido, apesar de lembrar de seus filmes na Sessão da Tarde minha memória não vai tão longe para tópicos como “o filme é bom?”, “eu gostei?” (e de qualquer forma eu era muito nova para um senso crítico válido).
Em Gatinhas e Gatões temos Sam (interpretada por Molly Ringwald, a atriz queridinha da época e do próprio Hughes), uma jovem que acorda animada para o dia de ser aniversário de dezesseis anos… apenas para se decepcionar uma vez que toda a sua família se esqueceu dele (e dela) mediante o casamento da irmã no dia seguinte. E é claro que o dia só tende a piorar com diversas situações embaraçosas e absurdas seguidas uma da outra. Em 24 horas observamos o núcleo familiar e escolar de Sam, bem como parte de sua transição pela pior fase da vida: a adolescência.
Primeiramente, um dos pontos mais importantes para se lembrar dos filmes do Hughes é que todos são produtos de seu tempo, isto é, são bastante datados. Sendo de 1984, Gatinhas e Gatões não foge à regra: é machista, sexista e cheio de piadas que, para a época, poderiam ser ótimas, mas hoje em dia só conseguiram me fazer caretas de desgosto quando vi. Cheio de esteriótipo, temos a popular maldosa, os nerds desajeitados e até mesmo o estudante de intercâmbio terrivelmente caraterizado como seu país (sério, chegou a doer assistir). O filme inteiro cheira a anos 80 e não é por causa das roupas.
O filme não é ruim, mas também não é exatamente bom. Molly faz jus à sua fama de atriz teen da época convencendo como a irmã do meio que só queria um pouco de atenção para variar, cheia de expectativas para o futuro e esperando que as coisas mudassem quando ela fizesse dezesseis. Por vezes foi cômico comparar aquela época com a nossa – quer dizer, seus avós fumavam na cara de todo mundo numa cozinha minuscula enquanto todos comiam! É basicamente um filme clássico de adolescente no colegial, com seus problemas de jovem e de escola. Esta formula é usada há décadas, apenas adaptada para região e ano. Tã-dã: sucesso garantido.
Mas meu maior e pior problema com o filme é sua cultura de estupro. Há pelo menos dois momentos muito explícitos no filme que eu fiquei horrorizada. Podem falar que “ah, mas era a época”, eu realmente não entendo e não aceito como podem escrever essas cenas em meio a filmes voltados para adolescentes – não que fosse aceitável num filme adulto, mas pera lá, filme para jovem? Na época foi lançado como “classificação livre” um filme que os personagens tratam mulheres como objetos sexuais, não as respeitam em situação alguma e um deles ainda diz que poderia violar a namorada de maneiras diferentes e ela não notaria de tão bêbada que estava. AAAAHHHH! Não! Não! Não!
Enfim, é um filme okay. Se cortasse todas as problemáticas, talvez restasse uns trinta minutos de filme, talvez quarenta. Passei raiva, mas torci pela Sam o tempo todo, o que é dizer muito considerando que todos os personagens possui certos problemas de construção (e alguns gravíssimos diga-se de passagem. Ela é constante, age e pensa como adolescente e sua situação me fez esperar que ela fosse feliz em sua vida.
Como a força da raiva é algo poderoso, depois de assistir este filme decidi procurar os outros filmes do John Hughes para assistir e espero trazer minha análise deles em breve aqui para vocês. Eu digo força da raiva não por mal, mas não esperava que Gatinhas e Gatões fosse tão problemático já que sempre ouvi falar muito bem do diretor e roteirista, e não havia visto problematizarem suas obras. Depois deste meu choque, quero ver uns e rever outros com um olhar mais objetivo e crítico. Segurem minha mão, que vou precisar de forças.
Título Original: Sixteen Candles
Título Nacional: Gatinhas e Gatões
Ano: 1984
Direção: John Hughes
Duração: 1h33m
Elenco: Molly Ringwald, Anthony Michael Hall, Michael Schoeffling
Trailer:
Eu adoro esse filme e super acredito que um remake o transformaria em algo eterno. Os problemas dele são exatamente questões da época e provavelmente o que nos incomoda neles existe em filmes de comédia, romance e ação dos anos 80.
Gatinhas e Gatões, como outros filmes do Hughes, iniciam os filmes teen, então muita coisa escrita ali poderia, talvez, ser mais apropriada a um público mais velho, que assistisse o que nos anos 00 eram os besteiróis (lembra de Todo Mundo em Pânico?)
Talvez não seja o mais interessante para pessoas em formação, mas para nós, mais velhos, ele ressoa e traz muitas memórias. E temos menos chance de absorver o que é problemático ali.
Acredito fortemente que uma atualização nos filmes os deixaria impecáveis. As propostas deles são ótimas, mas peca nesses pequenos detalhes que passaram despercebidos por anos até a gente se tocar do problema.
Esse filme, curtindo a vida adoidado eu só conheço de nome mesmo. O único dele que vi foi O clube dos cinco, mas há muito tempo e sinceramente não tenho mais vontade de (re)assistir. Apesar de também não ter asistido, já ouvi muitas observações sobre Grease também.
Muita força Mar, eu não teria essa coragem
Minha coragem é movida pela minha extrema curiosidade hahaha
Sabe que Grease eu até gosto, apesar dos pesares, vou rever também (tenho dvd hahaha), pois o que me lembro são pontos tbm datadoa mas menos graves.
Acabei de assistir na Netflix. Morri de dó da Caroline – e morri de RAIVA/RANÇO do Jake. Perceberam que ele foi um fdp que ainda namorando a Caroline ficou interessado e à procura da Sam?? Isso é traição!
E mais: além daquela fala ridícula dele que vc transcreveu em sua crítica, o Jake deixa um moleque que nem sabia dirigir levar a Caroline pra casa (sendo que ela mesma nem conhecia o menino) em troca da calcinha de OUTRA mulher! Isso é o cúmulo do absurdo! Ainda tem a parte que ele foi ignorante com ela, gritou pra ela não entrar no quarto dele e acabou sem querendo prendendo o cabelo da coitada na porta (e isso tudo pq que ele queria ficar sozinho no quarto pra poder ligar pra outra menina, a Sam).
Eu não gostaria que um namorado meu me tratasse assim. E v6? Além disso, homem que trai uma tb vai trair as demais!
Eu não engoli esse Jake. Nossa!
Mas… pesar dele e de outras cenas megafone machistas (foto que o loirinho tirou como se tivesse pegado a Caroline, aproveitando que ela Tavares bêbada; aquele lance da calcinha…), o filme realmente foi "okay". O núcleo familiar da Sam foi o que eu mais gostei at all.
Filme envelheceu mal. A própria Molly fez um tuíte falando sobre isso.
O John foi realmente um ótimo diretor, produtor e roteirista. Ele conseguiu trazer pra tela os dilemas adolescentes, fazer com que os personagens tivessem camadas; mas infelizmente, naquela época, era normalizado muita coisa. Era cultural fechar os olhos pra muita coisa. Ou nem ter consciência sobre aquilo.
Cultura do estupro, xenofobia, homofobia. Racismo.
São coisas que hoje não rolam.
O filme ficou datado.
Esse é o filme mais fraco do John Hughes. Todos os outros que vieram depois são melhores, em todos os aspectos. Clube dos Cinco por exemplo já é um filme melhor reverenciado inclusive por críticos de cinema profissionais. A patrulha do politicamente correto é realmente muito chata e implica com situações diversas, mas neste caso faz sentido. O ator que faz o galã é muito ruim, os nerds são sem graça e as piadas de tiozão. Para mim é apenas um registro visual dos 80's.