Se tem uma coisa que tenho feito muito é assistir filmes e séries na Netflix, e o fiz especialmente durante o segundo semestre de 2017. Mas um problema que me acontece quando começo a ver seguidamente muitas produções é cansar de tudo; mesmo que eu saiba que eu vou gostar, ou é um filme que eu sempre assisto e me faz bem, eu acabo parando e indo para a próxima escolha que também não me conquista e assim por diante.
Foi buscando algo para assistir que eu resolvi tentar Brooklylin Nine-Nine, uma série criada por Dan Goor e Michael Schur, produzida pela Fox e cujas três primeiras temporadas estão disponíveis na Netflix (a quarta entra no catálogo em breve). Minhas amigas (um beijo NICV) viviam falando da série e o quanto ela é ótima e que eu tinha que assistir “não vai se arrepender Maria”. Então né, eu vi.
[Evocando a Janice]
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Eu após maratonar a série. |
B99 está no top 5 das minhas séries favoritas e o mundo precisa conhecer essa maravilhosidade!
Contexto: a série retrata o dia a dia de um grupo deveras distinto de policiais do 99º Distrito de Nova Iorque, cuja direção muda para um novo e mais rígido capitão, fazendo com que eles levem seus trabalhos um pouco mais a sério e a brincar menos em serviço. São vinte minutos de comédia com um roteiro divertido, dinâmico e nunca idiota, que é o que me atraiu. Não é um grupo de policiais que parece não ter massa cinzenta e fazendo palhaçadas; mas um grupo de pessoas que passam por situações desconfortáveis e se esforçam ao máximo para tirar proveito disso. Ah, e já que o tema é policiais, não podemos deixar de lado também as investigações e cenas de ação no meio disso tudo.
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Observe a Gina ignorando seus preconceitos descabidos. |
Mas o porquê de gostar tanto dessa série vai além do que disse acima. É uma série boa com roteiro bom, me faz rir, já estipulamos isso. Entretanto, ela tem outras particularidades que me agradam e, mais importante, provam que é possível fazer comédia de qualidade sem ter que se apegar a piadinhas sem graça ou de teor desrespeitoso. B99 é uma resposta àquelas pessoas que reclamam que hoje em dia tudo é “politicamente correto” e “não dá para fazer piada, já que tudo é ofensivo.”
Começando que o elenco é bem diversificado. É toda uma gama não apenas de etnia, mas de sexualidade, religião, background. O que soa extremamente verossímil, já que quanto maior o grupo de pessoas, maiores as diferenças entre elas especialmente em uma metrópole – algo que na maioria das vezes é ignorado nas produções ou as diferenças são postas a dedo por algum motivo xis da equação do filme ou série. Não obstante, tais diferenças são abordadas e discutidas no decorrer da série, por vezes utilizando o alívio cômico ou mesmo assumindo um tom mais sério e imperativo. Como quando se discutiu a questão do negro na sociedade estadunidense e como é ser um policial negro; ali não coube um papo descontraído, nem por isso deixo o episódio destoado ou demonstrou falta de capacidade dos roteiristas em abordar o assunto. A habilidade em abordar assuntos importantes – sejam eles polêmicos ou não – é algo que eu e as meninas sempre discutimos. Door e Schur conseguem manejar bem o tom dos episódios, sem pesar a mão no cômico demais para tirar a validade da questão, não fazendo o tal humor por humor. Não é simplesmente fazer o público rir e rir do personagem, mas se divertir e o convidar a pensar.
Além de saberem abordar bem os temas, também sabem construir personagens. De caráter principal, são 9 policiais que estão em quase todos os episódios trabalhando juntos ou curtindo a folga. Cada um deles é um ser andante e pensante, possuidor de camadas que os fazem ser quem são.
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“Nunca estive tão feliz.” |
Sendo eles um grupo grande e distinto, junto grande parte do tempo, assim como na vida real há divergências e conflitos que ocorrem. É divertido acompanha-los nessa parte de suas jornadas, munidos com a experiência do trabalho para pregar peças um nos outros para vingancinhas ou tirar satisfações. Sem contar suas personalidades totalmente individuais, quase independentes. Estamos sempre conversando “isso é tão típico da Amy” ou “a cara do Jake fazer isso”.
A série me agarrou o coração, mas preciso de um parágrafo apenas para esse item: as one-line dos episódios são maravilhosas! Por one-line, digo aquelas frases que os personagens dizem que marcam a série ou o episódio, se não ambos. É algo marcante e engraçado que faz você querer repetir no dia a dia para que seja incorporado na conversa. Por exemplo, sempre que a Amy fala algo que pode ou não ter duplo sentindo Jake emenda rapidamente “Title of your Sextape” (“título da sua fita pornô”), ou como quando ele se refere ao capitão Holt como pai. Praticamente todas as falas da Gina – a secretária que nunca trabalha – são memoráveis e dignas, honestly.
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“Vamos dar às pessoas o que elas querem.” |
Brooklyin 99 me conquistou nos primeiros segundos e estou torcendo para que você aperte play logo após de terminar de ler essa matéria e seja sugado para esse grupo disfuncional junto comigo. Você vai amar.