Final de outubro estreou na Netflix a segunda temporada de Stranger Things. Como uma boa viciada, eu maratonei a temporada. Agora, que já se passou alguns dias e meus sentimentos e minha cabeça estão no lugar, sinto que finalmente posso falar sobre o que eu mais espero na terceira temporada: uma amizade (verdadeira) entre Max e a Eleven. Para poder discutir esse assunto, vou abordar fatos da primeira e segunda temporada então CUIDADO QUE ESTÁ CHEIO DE SPOILERS!
Vou começar pelo começo: a primeira temporada. A garotinha de cabelo raspado e que não possuía nome e era chamada pela alcunha de 011. Afinal, apesar de chamar o Dr. Brenner de papa, ele não era nem um pouco uma figura paternal. Ela era apenas um experimento. O décimo primeiro, para ser mais exata. Ignorante ao amor e cuidado. Uma arma. Um objeto. Faça isso. Faça aquilo. Por mim, por favor. Manipularam-na emocionalmente, fisicamente, sem nenhum pudor. Apenas uma garotinha.
Ela foge e conhece Mike, Lucas e Dustin. E depois Joyce e Hopper, Nancy e Jonathan. Só então, no decorrer de apenas uma semana, ela percebe que a vida que ela vivia na verdade não era vida. Quem era a mãe dela? Ela teria alguém que a amasse tremendamente da maneira que Joyce ama Will? Eles eram seus amigos agora. Eles a protegiam e ela os protegia. Ela conheceu o amor, o carinho. Todos eles eram sua família – mais do que papa jamais fora.
Chega a ser injusto quando ela acaba de conhecer o ar ele lhe seja retirado bruscamente. Entramos na segunda temporada. Ela fica no mundo invertido por pouco tempo, mas fica perdida e cuidando sozinha por meses. Ela está novamente isolada, à mercê, sem saber o que fazer e pensando apenas em sobreviver até Jim Hopper aparecer para cuidar dela. Ele sim acha mais como um pai em um ano que estão juntos. Ela tem uma cama e uma casa confortáveis, eles se divertem juntos, ele a ensina o que precisa aprender. Mas ela continua isolada. Eu entendo que Hopper tenha medo por ela – Brenner morreu mas ele não era o único que a queria. Ele já perdeu sua filha, não quer perder também aquele mocinha irritada que aprendeu a amar.
O fato dela continuar isolada é um problema. Ela foge. E como assim Mike está rindo com outra pessoa que não é ela ou os amigos dos dois? Quem é aquela menina de cabelo ruivo com o Mike? Veja bem, Eleven nunca esteve no mundo. Era a primeira vez que experimentava o ciúme. Antes era só ela em meio aos meninos e agora tinha um desconhecida com eles. Eleven não gosta do desconhecido. Eleven não conhece a maior parte do mundo e subitamente tem que enfrentar exatamente aquilo que não gosta e não entende. Não a julgo – ela é apenas uma pré-adolescente! Depois de tanta coisa que ela viveu em tão pouco tempo é preciso que lhe deem espaço pra entender como o mundo e as pessoas funcionam.
O que nos leva à Max. Minha querida e incompreendida Max. Ela mudou-se para muito longe do pai dela. A mãe se casou novamente com um cara que é um babaca e o Billy é igualmente um babaca. A família é tóxica e ela se esconde e ela se protege. Ela não quer amigos, ela só quer paz, um pouco de paz, longe da encrenca que é a casa dela. Lucas e Dustin insistem em serem amigos dela e Mike é totalmente grosso com ela. É confuso, não é o que ela queria. Novamente, ela está no meio de brigas, de problemas. Eles se dizem amigos, mas a deixam de fora. Eles se dizem amigos mas Mike diz que ela nunca será parte deles.
Max e El são parecidas. Ambas tem personalidade forte, ambas são determinadas e viveram ou vivem relacionamentos tóxicos. Foram emocionalmente abusivos com elas, cada um a sua forma. São sensíveis e por trás da máscara de duronas há duas garotas que só querem amigos e uma vida feliz. Max admira El, é praticamente uma lenda no grupo. Max já ouviu falar de El mais de uma vez. Eleven por sua vez ainda não conhece Max. Continua uma desconhecida.
Em meio a tantos garotos (e a tantas confusões, vamos combinar) elas precisam um da outra. Elas precisam do apoio de um semelhante. Eu vejo tanto potencial numa possível amizade verdadeira entre as duas que espero com todo meu coração que isso não seja desperdiçado e que não seja incentivado uma absurda rivalidade feminina dentro do grupo. Stranger Things vem acertando em muitas coisas e sororidade é algo que falta. A maior parte do elenco é masculino e as personagens femininas que existem estão em núcleos diferentes. Nancy está no núcleo teen (e suas conversas com a Barb eram, tham tham, sobre homens); Joyce no núcleo adulto e é a única. Eleven e Max no infantil, mas não dialogam (e antes da Max também era só a El). Mesmo quando os núcleos se encontram não consigo me lembrar de cena entre dialogo feminino.* O teste Bechdel mandou olá.
Tendo tudo isso em mente, me entristece ver que páginas de humor endossam a rivalidade entre as duas – por mais que Max nem tenha interesse em Mike (e mesmo se tivesse). Ou ver fãs da série dizendo que uma é melhor que a outra por esse ou aquele motivo. Uma rivalidade desnecessária que não havia até então. Quero dizer, o grupinho das crianças tem quatro meninos e não há essa rivalidade toda por ai fora da série, não é mesmo?
*Acabei de me lembrar que no final da primeira temporada Joyce e El tem cenas juntas. Não sei como considerar essas cenas, pois o objetivo é a El encontrar o Will e a Joyce apesar de dizer que estará ali para ajuda-la é a mãe do menino.