Ontem, dia 8 de março, foi Dia Internacional da Mulher. Mas a vontade que menos tenho é de comemorar. A satisfação que menos tenho é a de ser mulher. Não queria fazer um texto tão negativo em um dia supostamente de “comemoração”. Mas é difícil encarar esta como uma data de elevação à mulher considerando que ser mulher no mundo de hoje é sinônimo de sofrimento.
Eu sou mulher, e todo dia quando volto à noite da faculdade eu rezo para chegar em casa inteira. Eu olho por trás dos ombros para ter certeza de que não estou sendo seguida. Eu traço um caminho no qual eu tenha algum lugar para que possa me refugiar caso não me sinta protegida. Eu desço do ônibus e fico com as chaves em mão, também para entrar em casa mais rápido, mas principalmente para ser capaz de me defender.
Eu sou mulher e sempre que vou me arrumar me vêm aquela voz irritante na minha cabeça, me alertando sobre qual tipo e roupa e maquiagem eu deva usar para evitar chateações. Me irrito porquê quando eu ignoro essa voz sou obrigada a ouvir gracinhas na rua. Me irrito porquê, quando ouço essa voz, sou obrigada a ouvir gracinhas na rua. Para que fique registrado: essas gracinhas me soam como agulhas em meu ouvido e gelo em meu corpo. Essas gracinhas são ofensivas e não me fazem, nem um pouco, me sentir bem; me fazem sentir suja.
Eu sou mulher e quero poder falar o que penso sem que me chamem de arrogante. Quero poder ser líder sem me chamarem de mandona. Eu sou mulher e a última coisa que quero ouvir é que eu deveria fazer coisa de mulher, usar coisa de mulher, falar como mulher.
Eu sou mulher e eu faço o que quiser.
Eu sou mulher e eu uso o que quiser.
Eu sou mulher e eu falo como eu quiser.
Se não sabem lidar com isso, o problema não sou eu, não é ela, e nem as outras. O problema é você que não sabe nos enxergar como seres humanos. O problema é você que só sabe respeitar outro homem. O problema é você que quer poder nos controlar.
Eu sou mulher e eu temo.
“Mas não é bem assim.” “Ei! Nem todo homem!” “Olha o mimimi.” Mas é bem assim. E é todo homem, até que se prove o contrário. O Brasil é o quinto país no mundo com a maior taxa de feminicídios. 38% das vezes, o crime é cometido pelo parceiro. A cada 10 mulheres, 8 já foram assediadas. A cada 11 minutos uma mulher é estuprada. A cada 2 horas uma mulher é morta. Ainda acha que é mimimi?
Eu sou mulher, mas não comemoro. Não tenho interesse em flores e doces apenas um dia do ano. O que eu quero, o que eu luto, o que eu grito é por liberdade. É por igualdade e equidade. É por um mundo que não seja hostil só porque eu sou mulher.