Laurel possui um segredo. Não do tipo que você promete guardar por fazer com que se sinta especial, ou mesmo porque pode magoar aos demais – e sim do tipo que pode despedaçar àqueles que você ama. Do tipo que pode fazer com que sua irmã perca suas asas e caia, para sempre. 

Prestes a começar o Ensino Médio em uma nova escola, Laurel tenta resgatar pedaços de May, sua irmã mais velha, enquanto compartilha com o pai o peso de uma família arruinada pela morte e pelo abandono de sua mãe, que não “conseguiu suportar a dor” e mudou-se para a Califórnia.

Entretanto, apesar das linhas acima, “Cartas de amor aos mortos”não é um livro sobre depressão, revolta ou superação, apesar de serem temas presentes e desenvolvidos ao longo da narrativa. O romance escrito por Ava Dellaira retrata jovens “estranhamente normais” que lidam com uma realidade destruída (seja pela perca de alguém que ama ou pela iminência de, pelo estupro e/ou pela solidão) e que, mesmo perdidos em si mesmos, conseguem se encontrar uns nos outros.

“E então fico dando voltas. E ainda não sei como dar sentido ao mundo. E tudo bem ele ser maior do que podemos abarcar. Porque, quando você fala em beleza, não está falando de algo bonito, está falando de algo que nos torna humanos. A urna, você diz, é ‘amiga’, Ela vai viver para além da sua geração e das seguintes. E seu poema também é assim. Você morreu a quase duzentos anos atrás, quanto tinha só vinte e cinto anos. Mas as palavras que deixou ainda estão vivas.”

Assim como sugerido no título, o livro é um amontoado de cartas escritas a pessoas mortas (que deixaram a sua marca e, de alguma forma, estão ligadas à dor da protagonista), como Kurt Cobain, Amy Winehause e Judy Garland; tornando o que era para ser um simples projeto de inglês em um diário pessoal, que nos leva ao passado (tornando possível desvendar o segredo de Laurel) e às recentes descobertas da narradora, como se apaixonar por Sky, alguém que a torna tão frágil quanto forte.

“Cartas de amor aos mortos” é um romance que, por meio de palavras leves e joviais, aborda temas graves que assombram a adolescência há anos. Assim como em “As vantagens de ser invisível” e “Fale!”, a protagonista precisa aprender a lidar com suas palavras e a denunciar seus sentimentos. A escrita de Ava é angustiante (despertando o leitor através do mistério que envolve a morte de May) e tocante; como se apaixonar pelo desconhecido.

Os sentimentos retratados são palpáveis, enfeitiçando ao leitor. É como se as cartas escritas por Laurel fossem, na verdade, endereçadas a nós.

“Espero que um de vocês me ouça, porque o mundo parece um túnel de silêncio. Descobri que, às vezes, momentos marcam o nosso corpo. Eles estão ali, alojados sob a pele como sementes pintadas de surpresa, tristeza ou medo. E se você virar para um lado ou cair, uma delas pode se soltar. Pode se dissolver no sangue ou fazer surgir uma árvore inteira. Às vezes, quando uma se solta, todas começam a se soltar.
Sinto que estou me afogando em memórias. Tudo é claro demais.”

Emocionante e capaz de tirar seu fôlego, “Cartas de Amor aos Mortos” não é um livro sobre o luto, mas sobre encontrar a própria voz e gritar a sua dor.

Título Original: Love letters to the dead
Título Brasileiro: Cartas de amor aos mortos
Autor(a): Ava Dellaira
Editora: Seguinte
Ano: 2014
Páginas: 344
Sinopse: Tudo começa com uma tarefa para a escola: escrever uma carta para alguém que já morreu. Logo o caderno de Laurel está repleto de mensagens para Kurt Cobain, Janis Joplin, Amy Winehouse, Heath Ledger, Judy Garland, Elizabeth Bishop… apesar de ela jamais entregá-las à professora. Nessas cartas, ela analisa a história de cada uma dessas personalidades e tenta desvendar os mistérios que envolvem suas mortes. Ao mesmo tempo, conta sobre sua própria vida, como as amizades no novo colégio e seu primeiro amor: um garoto misterioso chamado Sky. Mas Laurel não pode escapar de seu passado. Só quando ela escrever a verdade sobre o que se passou com ela e com a irmã é que poderá aceitar o que aconteceu e perdoar May e a si mesma. E só quando enxergar a irmã como realmente era — encantadora e incrível, mas imperfeita como qualquer um — é que poderá seguir em frente e descobrir seu próprio caminho.

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