Atire a primeira pedra quem nunca terminou uma leitura aos prantos e desejando assassinar o autor(a) do livro em questão. Ao longo de uma quantia finita de páginas, acabamos nos apegando tanto aos personagens que nos deparar com uma cena trágica ou fora do padrão de felicidade esperado nos romances é o suficiente para nos emocionar e passar a noite acordados.

Criados desde pequenos com a sociedade dos finais felizes, estamos habituados a esperar pelo “…e foram feliz para sempre” sem lembrar que a morte está inclusa nesse processo. Até porque, apesar do que as lendas dizem, a imortalidade é pura ficção. Se você imaginasse a continuação da história da Cinderella, por exemplo, chegaria à conclusão de que ela e o Príncipe teriam filhos, os veriam crescer e então morreriam banalmente. Ou que um dia, ao sair para caminhar, seria atropelada por uma carruagem e deixaria duas crianças órfãs e um Encantado amargurado e descrente no amor. 
Tudo depende do ponto de vista e da imaginação de quem dá continuidade à narrativa.
Um dia qualquer estava a conversar com uma amiga – a mesma que me fez refletir e escrever o post “Quem disse que youtuber não é gente?” – e ela reclamou que havia lido quase trezentas páginas para no final o personagem morrer. Havia acompanhado sua trajetória, se emocionado com ele e o final não foi nada daquilo que esperava. 
“Dani, será possível que eu li sobre todas essas reviravoltas para no final ele morrer?” 
Elementar, minha cara colega.
Se fizéssemos um paralelo com a vida real, o último parágrafo seria equivalente a um “Por que viver se todos morreremos no final? É mais fácil pular da sacada e poupar esforços”.
A literatura não veio somente para ajudar o tempo a passar. A literatura veio para nos ensinar lições de uma forma romantizada, para nos fazer refletir e adotar valores para a nossa própria vida. E por falar em vida, a morte é um período desta.
Não serei hipócrita e direi que não choro em livros, não amaldiçoo autores (Deus sabe quantas vezes xinguei a JoJo Moyes em pensamento) e não sofro por personagens. Livros como “Como eu era antes de você”, “Por lugares incríveis” e “Proibido” tem um lugar especial em meu coração por me emocionarem tanto quanto me fazem refletir. 
Mas esse é o ponto: eles me fazem refletir. Fazem com que eu admire a vida cada vez mais, com que eu queira sair da zona de conforto, fazem com que eu viva. 
O problema dos finais trágicos é que eles nos tiram do esperado. Eles são desafios emocionais – tanto para quem escreve quanto para quem lê – e sair da zona de conforto nunca é agradável. Para quem está habituado à felicidade certeira, desencontros nunca são bem vindos. Mas garanto-lhes: você nunca mais verá a vida da mesma forma após chorar por um Will [Como eu era antes de você] da vida.