Segunda Parte: Cinza
XV – O OceanoBoio sobre o oceano.
O céu límpido e azul sobre mim. Vejo gaivotas voando. Gostaria de me juntar a elas. Bater minhasasas, sentir o vento, conhecer o céu. Mas o oceano não deixa. Ele pesa sob mim e se infiltra em meu corpo. Prende-me a ele.
A água me puxa. Sente meu desejo de liberdade e decide afoga-lo.
Afogando-me no caminho.
Bato os braços. Luto contra a correnteza.
Mas só me
A
F
O
G
O
A água me puxa para baixo, para longe da luz, para longe do céu, para longe das asas dos pássaros.
Parece que concreto está preso aos meus pés, guiando-me cada vez mais fundo na escuridão do oceano.
Onde não há som;
Onde não há luz;
Onde não há vida;
Onde não há céu.
Segunda Parte: Cinza
XVI – O Quarto
Entre. Seja bem-vindo. Acomode-se.
Não repare na bagunça. Dê-me só um segundo, irei escondê-la sob a cama, dentro do armário, nos cantos da gaveta.
Não olhe ai! Há sujeira acumulando pelos cantos. Poeira acumulada entre os anos. Aprendi a escondê-la muito bem.
Pronto.
Fotografias alegres nas paredes. Ursinhos de pelúcia sobre a cama. Flores frescas no vaso.
Assim está bom?
Sente-se. Vamos conversar sobre amenidades. Vamos sorrir e fugir de assuntos sérios. Está tudo bem, obrigada. Veja, estou sorrindo. Veja, estou arrumada.
Só não abra os armários da minha mente, as gavetas da minha alma. Tudo o que encontrará será bagunça por baixo da aparente limpeza e organização. Conforme-se com aquilo que lhe entrego, com o que lhe digo. Mantemos a aparência. Finjamos a alegria que não temos.
Eu lhe disse. Sei esconder bem a sujeira que acumulei entre os anos.