Título Original: The Madman’s Daughter
Título Brasileiro: A Filha do Louco
Autor: Megan Shepherd
Editora: Novo Conceito
Ano: 2014
Páginas: 414
Sinopse: Juliet Moreau construiu sua vida em Londres trabalhando como arrumadeira – e tentando se esquecer do escândalo que arruinou sua reputação e a de sua mãe, afinal ninguém conseguira provar que seu pai, o Dr. Moreau, fora realmente o autor daquelas sinistras experiências envolvendo seres humanos e animais. De qualquer forma, seu pai e sua mãe estavam mortos agora, portanto, os boatos e as intrigas da sociedade londrina não poderiam mais afetá- la… Mas, então, ela descobre que o Dr. Moreau continua vivo, exilado em uma remota ilha tropical e, provavelmente, fazendo suas trágicas experiências. Acompanhada por Montgomery, o belo e jovem assistente do cirurgião, e Edward, um enigmático náufrago, Juliet viaja até a ilha para descobrir até onde são verdadeiras as acusações que apontam para sua família.
SKOOB

Sabe aquele livro que parece legal, mas ai quando você vai ler ele te joga no chão e pisa em cima de você de tão bom que ele é? Tive essa experiência com A Filha do Louco. Eu recebi o livro, achei interessante mas fui adiando a leitura e passando outros livros à frente, em parte porque eu achei que seria algo parecido com O Livro das Loucuras e das Curas – toda essa coisa de estar em busca do pai desaparecido que parece ser louco. Oh, bem, estava enganada e acabou sendo uma das melhores leituras de 2014.

“A escuridão que havia ali já ficara impregnada nos espaços que havia entre meus ossos. Era uma escuridão que tomava conta dos corredores como se fosse a sombra do meu pai, com o cheiro do formol mistura ao de seus damascos em conserva favoritos.”

Shepherd se inspirou no livro A Ilha do Dr. Moreau, uma ficção científica escrita por H.G. Wells publicada em 1896. O livro, aliás, já foi adaptado em diversos filmes. Se você conhece a loucura e bizarrice que é o livro de Wells, já tem uma noção do que tem em A Filha do Louco, mas se você não conhece a história irei resumi-la em poucas palavras para vocês: Dr. Moreau é um incrível cientista que se isolou em uma ilha (fugido) e, nela, realiza diversos experimentos (proibidos) em animais em busca de trazê-los mais próximos dos seres humanos.

Em A Filha do Louco, Megan escreve pelo ponto de vista da filha que ela inventou para esse cientista, uma ligação à antiga vida dele e tudo o que ele deixou para trás em nome de sua obsessão. Juliet é uma jovem inteligente que nasceu abastada, mas após o escândalo de seu pai, perdeu tudo e agora precisa trabalhar para sobreviver. Sua vida mais uma vez ganha uma reviravolta ao rever Montgomery, um amigo de infância de sua outra vida, e a notícia de que seu pai na verdade está vivo em uma ilha praticamente esquecida. Juliet não tem nada a perder em Londres e acompanha Montgomery de volta à ilha, resgatando no caminho Edward, um jovem náufrago cheio de segredos.

Segredos e mistérios, aliás, é o combustível do livro. Juliet era muito pequena quando o pai sumiu e nunca soube se deveria acreditar no que ouviu sobre seus experimentos imorais e antiéticos e vai atrás dele em busca de respostas – seu pai era louco mesmo? Todos na Ilha parecem esconder algo: o pai, Montgomery, Edward e os próprios habitantes estranhos que moram lá. É assustador, ainda mais porque há algo muito perigoso nas matas que anda assustando a todos.

“Meu pai não se importava com as pessoas, apenas com a maneira como podia usá-las.”

Em um época que lidamos com manipulações genéticas, um livro sobre alterações físicas no corpo de animais (e que funcionam) pode parecer risível. Hoje, sabemos que não adianta juntar dois animais em um cirurgia apenas, mas para a época era algo terrível e desafiador. Mesmo assim, e talvez por isso, acrescenta ao livro um toque de morbidez, aquele tipo de loucura que horroriza, gela a espinha e te faz dar um passo para longe. Irreal para os dias de hoje, sim, mas minha leitura foi tão boa e me absorveu tanto que esqueci completamente disso.

Eu não tenho um posicionamento quanto a personagem líder. Tremendamente tonta, no mínimo, correr atrás de um pai que tudo indica ser louco e não demonstrou nenhum interesse nela por 10 anos. Mas não deixo de admirar sua coragem em enfrentar o que vem pelo caminho e continuar em frente. Acho que posso dizer que ela tem qualidades e defeitos como qualquer pessoa normal. Ponto para a autora, pois todos os personagens lidam com essa questão da humanidade, além de tópicos como ciência e religião. O meu personagem favorito é Montgomery, ele foi tão bem construído, o que o move, o que ele pensa, o que o aproxima e afasta de seu patrão, Dr. Moreau.

O livro é muito, muito bem escrito. Fui fisgada pelo ritmo da leitura sombria e cheia de suspense, pelas descobertas de Juliet sobre a Ilha e os seus habitantes, sobre si mesma – seria ela tão louca e perturbada quanto o pai? – e o desenrolar do enredo. São 414 páginas que passam num piscar de olhos e que te deixam o coração na garganta a cada reviravolta. Prepare-se, pois nem tudo é o que parece nessa ilha.

A Filha do Louco é o primeiro livro de uma trilogia e mal posso esperar pelo lançamento dos próximos livros.

“- Há uma escuridão poderosa dentro de você. Não negue; você sabe que é verdade. Você pode senti-a.. É o animal que está dentro de você, debatendo-se, faminto por coisas inumanas. Assim como em mim.”

Avaliação: