Ficha Técnica

Título Original: Pride and Prejudice

Título Brasileiro: Orgulho e Preconceito

Autor(a): Jane Austen

Ano: 1813

Editora: Martin Claret

Páginas: 304

Sinopse: Na Inglaterra do final do século XVIII, as possibilidades de ascensão social eram limitadas para uma mulher sem dote. Elizabeth Bennet, de vinte anos, uma das cinco filhas de um espirituoso, mas imprudente senhor, no entanto, é um novo tipo de heroína, que não precisará de estereótipos femininos para conquistar o nobre Fitzwilliam Darcy e defender suas posições com perfeita lucidez de uma filósofa liberal da província. Lizzy é uma espécie de Cinderela esclarecida, iluminista, protofeminista. Neste livro, Jane Austen faz também uma crítica à futilidade das mulheres na voz dessa admirável heroína — recompensada, ao final, com uma felicidade que não lhe parecia possível na classe em que nasceu.

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E é em clima de Dia dos Namorados que faço a resenha do livro. Não poderia haver momento mais oportuno não? Falar sobre um dos casais mais famosos de Jane Austen, um livro que já foi adaptado para livro e minissérie – me fazendo chorar em ambos, claro.

A sociedade do século 18 chega a ser absurda. A futilidade das mulheres, que viviam para fazer um bom casamento e, quando o faziam, viviam para vê-los acontecer, era imensa. Isso somado a ignorância e mesquinhez, fazia de nós, mulheres, tolas e estúpidas (como o Sr Bennet adora ressaltar durante a narrativa). Casamentos, musselinas, cetim e fardas era o mundo das mulheres. E havia, claro, o dinheiro. Casamento por amor praticamente não existia, e, sim, por conveniência e posses. Mobilidade social então? Praticamente nula!

“Vaidade e orgulho são coisas diferentes, embora sejam palavras usadas muitas vezes como sinônimos. A pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa. O orgulho está mais ligado à opinião que temos de nós mesmos, e a vaidade ao que os outros pensam de nós.” pág. 29

A elegância da época, a visão romantizada que se tem, parece distorcer um pouco a realidade do que era e nos faz – principalmente as mulheres – sonhar em poder viver naqueles dias por pelos menos algumas horas. Mas o machismo da época não fazia da nossa vida tão fácil. Pelo contrário, atrevo a me dizer. Festas, diversões, viagens. Não era para todos. Mas enfim, depois dessa curta aula de história, vamos nos ater ao que importa: o livro.

Jane Austen criou personagens redondos, profundos. Cada um apresentando no livro tem uma personalidade diferente do outros. É tanta diversidade que me pergunto como ela conseguiu inseri-las todas em um só livro. Gostei também de como ela as apresentou e, principalmente, da inversão de qualidade quanto a Lizzie e Jane. Elizabeth é impertinente e sincera, que quase chega a doer. Uma qualidade que seria depreciada, mas é exatamente isso que chama a atenção de Mr. Darcy para a moça e a salva de situações constrangedoras. Já Jane é dócil e generosa, se recusa a pensar mal das pessoas. Agradável, porém, embora conquiste Bingley, essa ingenuidade a impede de ver as pessoas como realmente são e acaba sendo enganada. Um tanto irônico, não?

A autora abordou problemas típicos da época: casamento por amor, por dinheiro, discrepâncias sociais e econômicas e, sobretudo, o orgulho e preconceito que assolava a sociedade da época. Ela juntou tudo de uma maneira natural, sem que ficasse pesado, estranho ou forçado. Os temas foram bem abordados e desenvolvidos.

“Elizabeth nada disse, mas aquilo a deixou enormemente contente; aquela gentileza era toda para ela.” – pág 203

O romance entre Jane e Bingley é doce e puro, como ambos. Fadado a acontecer, desde o primeiro momento que se encontraram e sentiram-se atraídos no baile, mesmo com algumas dificuldades para que se concretizasse. Já Lizzy e Darcy foi necessário tropeções pelo caminho para que pudessem se permitir amar um ao outro. O orgulho de Mr. Darcy o deixara irredutível de que amar uma moça tão inferior socialmente a ele era impossível e que não deveria acontecer. Seu espanto e negação ao perceber seus sentimentos para com Elizabeth o fizeram ser rude mais que o normal, provocando a petulância da moça. Já a ela, cabia o preconceito contra o pobre homem. Por ouvir picuinhas dos outros, sem procurar saber a verdade, e sua precipitada análise sobre Darcy teve um final infeliz ao atribuir um caráter e personalidade totalmente diferentes das verdadeiras. Uma vez que esse defeito de ambos fora ultrapassado, nada havia mais no caminho que pudesse deter o amor. Lindo, de fato.

Nenhum personagem era perfeito, todos extremamente humanizados. Mas duas personagens eram extremamente desagradáveis e me irritavam constantemente, que me dava vontade de pular suas ações. A sra. Bennet e sua filha, a mais nova das irmãs, Lydia. Ambas são extremamente e absurdamente fúteis e irritantes. A primeira, chantagista emocional, alegando ‘sofrer dos nervos’ (drama a toa). Além de ignorante, era tola e superficial. Tudo bem que era um mal da mulher na época, mas que mãe mais chata elas tiveram o azar de ter. Não tinha modos e era expansiva demais. Infelizmente, a filha mais nova é o retrato da mãe. Simplesmente não havia limites para ela, flertava descaradamente com os homens e era festeira até não poder mais. Além de tudo, mostrava-se arrogante e orgulhosa da pior maneira. Não gostei em absoluto dessas duas. Superou até o meu incômodo pela negligência do sr. Bennet, o pai.

De total, é um livro fácil de ler, cheio de detalhes que te tragam para dentro das cenas. Havia partes que nomes de pessoas e cidades eram ocultos por asterisco. Não sei se é obra da autora ou do editor, muito menos o porque disso, mas não atrapalha na leitura. Uma leitura gostosa com uma trama cativante e deliciosa. Um bom livro de romance romântico e sem nada de sobrenatural pra variar.

“Não sei determinar a hora, o lugar ou o olhar, ou as palavras que lançaram fundamentos. Faz muito tempo. Já estava no meio quando percebi que havia começado.” pag. 298

Resenha desenvolvida por Maria Salles.