Dirigido por Felipe Hirsch, o monólogo encenado pela atriz Fernanda Montenegro conta a trajetória da filosofa existencialista (e escritora e femista) Simone de Beavouir, que viveu na França no século passado, envolvendo-se com outros pensadores e escritores da época como Nelson Agren, Claude Lanzmann, mas, principalmente, com Sartre.

Não há palavras para descrever a emoção que senti ao ver Fernanda Montenegro dirigir-se a passos lentos até o meio do palco, sentar-se em sua cadeira negra e ter as luzes diminuídas de modo a iluminar somente o rosto e parte do tronco. Há nessa trajetória um respeito e admiração impostos que pude ouvir a todos segurarem a respiração no silêncio reinante, esperando pelo momento em que ela abrisse a boca para que se iniciasse o espetáculo (o que só ocorreu após uns segundos suspensos).

Acho que a melhor palavra para definir o monólogo é espetáculo. Ela foi incrivelmente espetacular, em todos os sentidos. Desde a crueza do palco, todo negro e iluminado apenas no centro, à capacidade de Fernanda em nos prender completamente nela apenas com palavras. Ela não se levanta uma vez sequer durante a encenação. É apenas ela, sua voz e sua expressão corporal ao máximo sentada na cadeira preta.  Alguém com a capacidade de fazer com que uma hora de falação passe como se fossem quinze minutos sem parecer se esforçar, sem ter as ações, cores e sons para nos distrair não é fraca, muito pelo contrário. Não é a toa que Fernanda Montenegro é um dos nomes mais fortes do teatro brasileiro. Vale ressaltar de que ela foi a única brasileira até hoje indicada a um Oscar!

Infelizmente, não foi possível contata-la no camarim, pois ela está em uma turnê com a peça pela região, encarando uma cidade por dia. Mas ao fim, após a onda de aplausos (todos de pé) que durou fácil um minuto seguido, ela agradeceu a oportunidade e se mostrou emocionada pela repercussão da peça na cidade. Disse que seria maravilhoso poder ficar mais, mas que não era possível dessa vez.  Elegante, impactante e super simpática, foi essa a minha impressão dela.

Apesar de ser monologo, a peça foi bem interessante, embora não indicada para um publico leigo em história e um pouco de filosofia. A época que Beavouir viveu era marcada por uma sociedade machista, boêmias e passando pelas Guerras Mundias que abalaram o mundo. Ser uma filósofa, escritora, feminista nessa época não era fácil, ainda mais vinda de uma família burguesa e católica. Só há uma única coisa que me incomodou, e nem tem nada a ver com a Fernanda ou a peça, e sim com a iluminação. Estava forte e incomodava meus olhos, nem quero pensar como foi pra coitada sentada bem embaixo dela.

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