Ficha técnica

Literatura Nacional
Título: A Filha da Minha Mãe e Eu
Autor(a): Maria Fernanda Guerreiro
Ano: 2012
Editora: Novo Conceito
Páginas: 272

Sinopse: Sensível e tão real a ponto de fazer você se sentir parte da família, A filha da minha mãe e eu conta a história do difícil relacionamento entre Helena e sua filha, Mariana. A história começa quando Mariana descobre que está grávida e se dá conta de que, antes de se tornar mãe, é preciso rever seu papel como filha, tentar compreender o de Helena e, principalmente, perdoar a ambas. Inicia-se, então, uma revisão do passado – processo doloroso, mas imensamente revelador, pautado por situações comoventes, personagens complexos e pequenas verdades que contêm a história de cada um. 

Com tantos comentários sobre o livro, gente querendo ler, pessoal amando, dizendo ser emocionante e tudo mais, eu mesma fiquei super curiosa e ao ler a sinopse, ansiei pela leitura também. Me identifiquei com o tema, pois, afinal, nenhum relacionamento é perfeito e que filha não teve/tem atritos com seus pais? Foi por isso que me inscrevi sem hesitar no booktour do livro organizado pela Helana, do blog In The Sky.

Só que…

O livro não causou em mim a reação esperada. Primeiro, compreendam que drama me faz chorar, tipo, sempre. Sou praticamente uma manteiga derretida e um poço de sensibilidade (vejam só, às vezes uma simples e boa propaganda enche meus olhos de água!). Porém, A Filha da Minha Mãe e Eu não me sensibilizou a ponto de me fazer chorar ou querer chorar. Pra ser bem sincera, passei a maior parte do livro um pouco sufocada com tantos acontecimentos.

“Nessas horas, achava que talvez fosse verdade quando o Guga dizia que eu tinha sido achada na lata de lixo.”

Apesar de alguns diálogos não me convenceram, o livro é bem escrito e fácil de ler. As relações das personagens foram bem definidas e exploradas, assim como suas caracterizações individuais. O tema abordado (relação familiar) foi uma ideia diferente, já que a maioria dos livros que leio não o utiliza como primeiro plano e sim como cenário para que um romance (na maioria das vezes) se desenvolva. O livro não tem romance, é estritamente sobre a família de Mariana, com seus altos e baixos, no decorrer dos anos.

Mariana e sua mãe, Helena, possuem uma relação conturbada. Mariana se sente rejeitada pela mãe, que protege demais o irmão – Gustavo – e isso faz com que ela compense com o pai, que se torna também um grande amigo, o que desagrada a mãe, que a vê como uma concorrente. É um ciclo vicioso e prejudicial a todas as partes. Entretanto, não para por ai, os problemas não se limitam ao apartamento da família, se estende para os pais e irmã de Tito – pai de Mariana – e os pais e irmãos de Helena. Todos tiveram um grande problema para lidar em alguma altura da vida causando certos traumas e comportamentos. E os problemas, passados e presentes, vão se acumulando e formando uma bola de neve que explode em certo ponto. Sabem aquele ditado que diz “tudo que é demais sobra/cansa/enjoa/faz mal”? Pois é, o drama foi tanto que ao invés de me sensibilizar ou emocionar acabou me cansando. Me sentia sufocada com tanta tragédia acontecendo.

Algumas atitudes dos personagens também não me agradaram. Dona Helena muitas vezes agia com uma infantilidade, misturada com sua forma rígida de ser, que me dava nos nervos, assim como Mariana agia com impulsividade que me dava vontade de entrar no livro e gritar com ela. Ao mesmo tempo, havia momentos que me identificava com ela, pois assim como Mariana sou mais do tipo que guarda as coisas e fala pouco – o que às vezes irrita minha mãe, né? Bjo mãe!

“Muitas vezes não é o que se diz que magoa, mas o tom com que se fala faz toda a diferença. E eu conhecia todas as variações de voz da minha mãe para saber que aquele clima mão melhoraria no dia seguinte, nem no outro.”

Preciso comentar duas coisas sobre um fato que acontece no livro. Se você não quer saber desse pequeno spoiler – que não irá alterar em nada sua leitura – sugiro que pule o próximo parágrafo.

Com 17 anos Mariana engravida e ela e o namorado/ficante resolvem fazer aborto. Ela diz a mãe que vai passar o final de semana na praia, mas ela e Miguel na verdade vão para uma clinica – clandestina, imagino, já que aborto no Brasil não é legalizado – e ela volta no domingo fingindo estar tudo bem. Dois ou três anos depois, quando a relação das duas está melhor, Mariana conta para a mãe do que fez naquele final de semana. E o que a Helena faz? Nada. Simplesmente não fica brava, triste, decepcionada, chocada nem nada.  A filha engravida com 17 anos, faz abordo escondido, mente, anos depois revela e a mãe acha que está tudo bem. Aham. Tá. O que nos leva ao segundo fato, o que a mãe dela diz à Mariana: “Se o bebê não veio é porque você e ele fizeram um acordo numa outra vida para que acontecesse assim. A missão dele era viver só até onde ele viveu. E a sua, talvez tenha sido emprestar seu corpo para que ele pudesse cumprir essa missão.” E diz que aprendeu isso com a amiga dela, que é espírita. É uma ideia totalmente equivocada, eu sou de família espírita e frequento Centros Espíritas desde criança. A Doutrina Espírita não apoia o aborto. Mariana não teve um aborto espontâneo, ela o causou. O que a Helena diz seria válido apenas se tivesse sido uma fatalidade da vida. Ponto.

A Filha da Minha Mãe e Eu não é um livro de todo ruim. Não há erros de digitação ou gramática e o design da capa é bonito e de acordo com a história. Porém, eu esperava mais dele e não estava preparada para tamanha tetricidade, e talvez tenha sido por isso que não gostei tanto do livro.

“Ela tinha mudado e há muito tentava ser minha mãe. Eu é que não deixava. Algo estava enraizado em mim de uma maneira tão forte que não conseguia agir diferente, por mais que tentasse.”

Resenha por Maria Salles.