Ficha Técnica

Título Original: Wintergilrs

Título Brasileiro: Garotas de Vidro

Autor(a): Laurie Halse Anderson

Ano: 2012

Editora: Novo Conceito

Páginas: 272

Sinopse: Lia está doente e sua obsessão pela magreza a deixa cada vez mais confusa entra a realidade e mentira. Mas ela perde totalmente o controle quando recebe a notícia de que sua melhor amiga, Cassie, morreu sozinha em um quarto de motel. E o pior: Cassie ligou para Lia 33 vezes antes de morrer. Trinta e três vezes.

O que começou como uma aposta entre duas amigas para ver quem ficaria mais magra tornou-se o maior pesadelo de duas adolescentes reféns de seus próprios corpos.

Ao negar seu problema, Lia impõe a si mesma um regime cruel em que contar calorias não é o bastante. Ao omitir seu desespero, apela ao autoflagelo numa tentativa premeditada de aliviar seus tormentos. Seus pais e sua madrasta tentam ajudá-la a qualquer custo, mas nem mesmo sua doce irmã, Emma, consegue fazer com que Lia pare de se destruir.

Agora, Lia precisa encontra um modo de lidar com todos os seus fantasmas, e a morte de Cassie é um deles.

Já estava a fim de ler Garotas de Vidro há um tempo, após ter lido a sinopse quando foi lançado. Estrategicamente, passei longe das resenhas feitas, pois queria ler sem nenhuma opinião alheia sobre o livro ou informação extra que pudessem me trazer. Acho que fiz bem.

Lia é doente. Absurdamente doente. Seu desprezo por ela mesmo é tangível e me arrepiou. Ela conta obsessivamente as calorias de tudo o que come e bebe, não deixa passar nada. É muito triste encarar alguém que tem uma profunda repugnância por si mesma, que através do que come – ou que deixa de comer – procura alcançar um nível de pureza que, na verdade, não existe, mas que ela não consegue ver isso.

“Quem quer se recuperar? Levei anos para ficar magra daquele jeito. Eu não estava doente; eu era forte. Mas ficar forte me manteria presa. A única maneira de sair dali era me entupir de comida até andar como um pato.”

O que Lia passa é uma realidade que não está longe de nós, não importando em qual país more, credo, família, situação social ou financeira. O desespero pela magreza excessiva, o ‘modelo de beleza’ da sociedade, em que linda é aquela que é magra e alta iguais às mulheres que desfilam nas passarelas, tem deixados milhares de jovens doentes. Anorexia e bulimia tornou-se uma epidemia a ser combatida, até mesmo pelos profissionais de moda.

Entretanto, os problemas de Lia vão além de ela querer ser como as modelos. Aliás, em momento algum do livro é dito que sua busca em perder peso é para ser como as modelos. O que torna um problema ruim ainda pior. O lado psicológico é tremendamente irracional e afetado. Ela acredita que tudo o que come é lixo e que está suja, que precisa se limpar e ser pura. Sua doença sempre esteve lá, desde novinha, mas com o passar dos anos e influencia da amiga Cassie, que desenvolveu bulimia antes da amiga, toma proporções maiores e depois da promessa de Lia feita no ano novo de que ela seria a mais magra de toda a escola. Duas garotas em busca da pureza encontrada na magreza começam uma aposta perigosa, que destrói, não apenas a elas, mas todos em volta.

Com a morte de Cassie, Lia se descontrola. Seu vício torna-se cada vez mais exigente e a lenta recuperação forçada vai por água a baixo. Ela quer pesar 45. Depois 43 e então 40. Tenta driblar a fome e o olhar aguçado dos pais e madrasta sobre seu peso e alimentação. Conforme a narrativa se desenvolve, pode sentir dois lados de Lia: o irracional e mais presente e perturbador, que exige que ela perca peso e se castigue, o lado que silencia o seu segundo, que é o lado consciente de que ela não está bem. O lado que tem noção de não consegui parar ao atingir o objetivo numero um (40 quilos). Sabe que se atingi-lo, vai querer pesar 38. Pra depois 35 e então 30. De que ela não vai parar enquanto não pesar nada. Zero.

“Filhas mortas e apodrecendo deixam um cheiro ruim que não sai, não importa o quanto a faxineira esfregue tudo. Meus pais jogavam a culpa um sobre o outro, jogando a Lia para cá, a Lia doente e faminta pra lá, o que está acontecendo com ela, é tudo culpaculpaculpa sua.”

Narrado em primeira pessoa, o livro expõe bem a confusão e irracionalidade de pensamentos da personagem. Ela não consegue mais distinguir entre o que é real e o que é delírio de seu corpo frágil e débil. Mente para os pais e para ela mesma, inconscientemente das consequências de seus atos, sem perceber que está se matando e machucando quem a ama.

Acompanhamos a evolução da história sem sabermos o que Lia fará a seguir: ela irá admitir de que precisa de ajuda? Vai continuar com o regime absurdo? Ou chegará a um extremo sem volta, como Cassie?

Laurie expos uma feriada aberta da sociedade e pôs o dedo nela. A história é perturbadora, emocionante e desesperadora. Um drama ficcional, mas muito real. A diagramação é simples, porém há detalhes que chamam a atenção e acrescentam ao ambiente descrito, como a marcação e capítulos como se fossem contagem de calorias, frases riscadas como se fossem pensamentos de Lia que ela está rejeitando. Há repetições de palavras/frases, deixando claro que a mente da garota não está bem. É um livro para ser lido e absorvido, deixando que a verdade que as palavras expressas sejam gravadas em nossas mentes para que não as esquecermos.

“Não me lembro mais de como é comer ser planejar tudo, anotando as calorias e o teor de gordura e medindo meus quadris e minhas coxas pra ver se mereço e geralmente decidido que não, que não mereço, e então mordendo minha língua até sangrar(…).”

Resenha desenvolvida por Maria Salles.